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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

CANDOMBLÉ DA NAÇÃO NAGÔ

MANIFESTAÇÕES DE ORIGEM JEJE-NAGÔ


CANDOMBLÉ KETU-NAGÔ

O candomblé de nação Ketu, classificado pelos estudiosos como Jeje-nagô, é de certa maneira o modelo adotado pelos candomblés das demais nações. É possível que como correr do tempo e dada a dinâmica própria do fato cultural, outras formas de candomblé, sobretudo o Jeje seja assimilado pelo candomblé de nação Ketu. Há um certo movimento dos sacerdotes de nação angola na direção de uma retomada dos fundamentos de origem banto, sobretudo a língua ritual, procurando um renascimento do esplendor de outrora dos candomblés de origem banto.

A primeira casa de Candomblé Ketu-Nagô foi fundada em Salvador na Bahia, ainda no século passado. Contam que três mulheres, ex-escravas, que pertenciam ao reino de Ketu, onde ocupavam posição de destaque na corte antes de serem transformadas em escravas, foram suas fundadoras. Essas três valorosas mulheres fundaram essa casa de Candomblé, ao lado da Igreja da Barroquinha, no centro da cidade de Salvador. Depois de várias mudanças, estabeleceu-se num bairro chamado Engenho Velho, onde permanece, por isso é conhecido como Candomblé do Engenho Velho, ou Casa Branca do Engenho Velho. É uma casa antiga e venerável, cuja mãe de Santo, atualmente, é uma velha Yalorixá da Oxum, chamada carinhosamente por todos de Mãe Tatá.

São oriundas do Engenho Velho, duas outras casas importantes. Era filha-de-Santo do Engenho Velho, uma senhora de Xangô, por nome Eugênia Ana dos Santos, que ao completar seu tempo de iniciação deixa o Engenho Velho, e funda o Candomblé do Axé Opô Afonjá. A outra casa importante que saiu de lá, foi o Candomblé do Gantois, cuja mãe-de- Santo atual é mãe Cleusa de Nanã, filha carnal da famosa Mãe Menininha do Gantois. Estes dois candomblés que foram fundados a partir do Engenho Velho, são, junto com o Engenho Velho, as três casas de Candomblé mais antigas do Brasil, e todas as casas de Candomblé Ketu, de uma forma ou de outra tem sua origem aí.

Há uma outra casa também nagô-ketu, que teria sido fundada por uma outra dignitária africana, cuja herdeira, Olga de Alaketu é mãe de santo dos principais políticos brasileiros. Essa casa fica em Brotas de Matutu, e segundo uma inscrição na parede do barracão, foi fundada em 1631.

Além das casas fundadoras de Candomblé de nação Ketu, há também as casas fundadoras de outras nações, como o Bate-Folhas de nação Angola, e o Bogum, de nação Jeje.

No Candomblé de nação ketu, chamado Ketu-nagô, a língua utilizada para o ritual é o Yorubá, língua até hoje falada na África, pelo povo da região de Yorubá. Ketu é o nome de uma cidade, ainda hoje importante, localizada no Benin, antigo Daomé, vizinho da Nigéria. Chama-se candomblé de ketu, pois grande parte da população de origem africana, na Bahia, que fundou o candomblé, era proveniente dessa região da África. (TRINDADE:1995)

Os estudiosos, inclusive um francês, babalawô do Ilê Axé Opô Afonjá, chamado Pierre Verger, fez várias viagens à África, onde pode observar e constatar a semelhança dos rituais, cantigas, uso de folhas, assentamentos, entre as nossas práticas religiosas aqui no Brasil e no continente africano. O candomblé de nação Ketu talvez seja o que mantém os rituais mais próximos das raízes africanas, pois o intercâmbio entre o Brasil e a África dos Yorubás foi sempre muito constante, não só no tempo da escravidão, mas até hoje, pessoas do Brasil tem ido à África para apurar conhecimentos a respeito da religião

2. Cultos diversos
Na região dos Nagôs pratica-se o culto aos Orixás, e no Brasil os africanos criaram o Candomblé de nação Ketu, ou Ijexá, assim como o Batuque no extremo sul do Brasil e o Xangô na região Nordeste. Na região centro-sul africana, pratica-se o culto aos Inkices e antepassados, e no Brasil esses africanos criaram o Candomblé de Angola e a Umbanda, assim como entre os Jejes pratica-se o culto aos Voduns, e no Brasil criou-se a Casa das Minas, no Maranhão e os Candomblés Jejes, na Bahia e no Rio de Janeiro, assim como o Tambor de Minas, também no Maranhão.

A língua ritual das casas de Ketu e Ijexá é o Yorubá e lá se cultuam os Orixás, enquanto nas casas de Angola e Congo falam o Kibundo e o Kikongo e cultuam os Inkices e os antepassados, na figura dos Caboclos. Nas casas de origem Jeje a língua ritual é o Jeje e cultuam-se os Voduns.

Há muitas práticas no Candomblé que são a mistura de várias nações africanas, assim como, há práticas que são o resultado da mescla de elementos da África com elementos do Catolicismo, como há outras que os africanos aprenderam com os indígenas. Sendo assim, não podemos dizer que o Candomblé ou a Umbanda sejam religiões africanas, e sim religiões brasileiras de matriz africana, com muitas contribuições do catolicismo e da religião dos indígenas brasileiros.

Por isso, roupas, adereços, comidas, paramentos dos deuses, não são iguais os dos africanos, porque foram adaptados e recriados no Brasil, com base nas informações que os africanos traziam. A roupa de baiana que as mulheres usam no Candomblé não existe na África, mas é uma mistura de roupa africana com a roupa que as escravas e senhoras usavam no tempo da escravidão. O torso é uma herança africana, vinda dos árabes, que viveram na África como dominadores durante muito tempo, deixando um legado cultural muito expressivo. Os paramentos, as roupas, a indumentária dos Orixás, Inkices e Voduns possuem elementos que são africanos e elementos que foram criados no Brasil, assim como todas as outras atividades das religiões afro-brasileiras. Comidas, bebidas, frutos, foram adaptados de acordo com as possibilidades do Brasil, pois muitas frutas e folhas africanas não foram encontradas, obrigando os sacerdotes a fazerem um adaptação.

Os estudiosos tem segmentado as religiões de matriz africana em dois grandes blocos, o Jeje-nagô, que englobaria todas as manifestações de origem sudanesa e o Congo-Angola, que conteria os elementos de cultura banto.

4.1. CANDOMBLÉ KETU-NAGÔ
O candomblé de nação Ketu, classificado pelos estudiosos como Jeje-nagô, é de certa maneira o modelo adotado pelos candomblés das demais nações. É possível que como correr do tempo e dada a dinâmica própria do fato cultural, outras formas de candomblé, sobretudo o Jeje seja assimilado pelo candomblé de nação Ketu. Há um certo movimento dos sacerdotes de nação angola na direção de uma retomada dos fundamentos de origem banto, sobretudo a língua ritual, procurando um renascimento do esplendor de outrora dos candomblés de origem banto.

A primeira casa de Candomblé Ketu-Nagô foi fundada em Salvador na Bahia, ainda no século passado. Contam que três mulheres, ex-escravas, que pertenciam ao reino de Ketu, onde ocupavam posição de destaque na corte antes de serem transformadas em escravas, foram suas fundadoras. Essas três valorosas mulheres fundaram essa casa de Candomblé, ao lado da Igreja da Barroquinha, no centro da cidade de Salvador. Depois de várias mudanças, estabeleceu-se num bairro chamado Engenho Velho, onde permanece, por isso é conhecido como Candomblé do Engenho Velho, ou Casa Branca do Engenho Velho. É uma casa antiga e venerável, cuja mãe de Santo, atualmente, é uma velha Yalorixá da Oxum, chamada carinhosamente por todos de Mãe Tatá.

São oriundas do Engenho Velho, duas outras casas importantes. Era filha-de-Santo do Engenho Velho, uma senhora de Xangô, por nome Eugênia Ana dos Santos, que ao completar seu tempo de iniciação deixa o Engenho Velho, e funda o Candomblé do Axé Opô Afonjá. A outra casa importante que saiu de lá, foi o Candomblé do Gantois, cuja mãe-de- Santo atual é mãe Cleusa de Nanã, filha carnal da famosa Mãe Menininha do Gantois. Estes dois candomblés que foram fundados a partir do Engenho Velho, são, junto com o Engenho Velho, as três casas de Candomblé mais antigas do Brasil, e todas as casas de Candomblé Ketu, de uma forma ou de outra tem sua origem aí.

Há uma outra casa também nagô-ketu, que teria sido fundada por uma outra dignitária africana, cuja herdeira, Olga de Alaketu é mãe de santo dos principais políticos brasileiros. Essa casa fica em Brotas de Matutu, e segundo uma inscrição na parede do barracão, foi fundada em 1631.

Além das casas fundadoras de Candomblé de nação Ketu, há também as casas fundadoras de outras nações, como o Bate-Folhas de nação Angola, e o Bogum, de nação Jeje.

No Candomblé de nação ketu, chamado Ketu-nagô, a língua utilizada para o ritual é o Yorubá, língua até hoje falada na África, pelo povo da região de Yorubá. Ketu é o nome de uma cidade, ainda hoje importante, localizada no Benin, antigo Daomé, vizinho da Nigéria. Chama-se candomblé de ketu, pois grande parte da população de origem africana, na Bahia, que fundou o candomblé, era proveniente dessa região da África. (TRINDADE:1995)

Os estudiosos, inclusive um francês, babalawô do Ilê Axé Opô Afonjá, chamado Pierre Verger, fez várias viagens à África, onde pode observar e constatar a semelhança dos rituais, cantigas, uso de folhas, assentamentos, entre as nossas práticas religiosas aqui no Brasil e no continente africano. O candomblé de nação Ketu talvez seja o que mantém os rituais mais próximos das raízes africanas, pois o intercâmbio entre o Brasil e a África dos Yorubás foi sempre muito constante, não só no tempo da escravidão, mas até hoje, pessoas do Brasil tem ido à África para apurar conhecimentos a respeito da religião.

4.2 XANGÔ DE PERNAMBUCO
O Xangô de Pernambuco é uma variante Jeje-nagô, pois assemelha-se muito ao Candomblé baiano, tanto nos rituais privados (iniciação, feitura, bori, ebós, etc.) quanto nos rituais públicos, com a diferença que nos rituais públicos, quando os orixás vem dançar incorporados nos filhos-de-santo, são paramentados luxuosamente, enquanto no Xangô pernambucano, o filho continua vestido com a mesma roupa. Os Xangôs tanto de Pernambuco, quanto dos outros estados nordestinos limítrofes a Pernambuco sofreram uma brutal perseguição policial a tal ponto de se criar em Alagoas um outros ramo, o Xangô rezado-baixo , quando nos rituais não se usavam os atabaques e a raspagem da cabeça do fiel não se fazia mais para fugir à arbitrariedade policial. O Pai-de-santo Adão Ventura talvez tenha sido, senão o fundador do Xangô, uma de suas figuras mais ilustres. (PRANDI: 1987 )

Roger Bastide ao percorrer o Rio Grande do Sul em suas andanças pelo Brasil africano (BASTIDE:1974) registra suas primeiras impressões sobre o Batuque Gaúcho, dando-o como herdeiro do Xangô pernambucano. Realmente, o Batuque gaucho, segundo Norton Correa (CORREA: 1992 ) que melhor pesquisou o fenômeno, tem muitos pontos em comum com o Xangô. No entanto, uma outra pesquisadora Maria Helena Nunes da Silva apresentou durante o V Congresso Afro-brasileiro, em Salvador-1997, a tese de que o batuque, ou um de seus lados ou nações teria origem em Porto Alegre, a partir da vinda de um príncipe africano, Príncipe Custódio que ali viveu durante largos anos às expensas do governo inglês, nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX.

Tal como o Xangô de Pernambuco, o Batuque gaùcho cultua os mesmos orixás dos yorubás com leve diferença de nomenclatura. As cerimônias são mais ou menos semelhantes, não havendo no entanto a raspagem de cabeça. O tempo de feitura de Santo, que nos Candomblés de origem nagô demora, com exceção do Gantois, 17 ou 21 dias, entre os batuqueiros, o aprontamento dura apenas 7 dias.

É importante destacarmos que o Batuque tem larga penetração na Argentina e no Uruguai e que há um forte contingente de Sacerdotes do Batuque gaúcho que fazem a viagem além fronteiras para iniciar filhos de santo e atender clientes nesses dois países limítrofes. Há casas de Batuque, na Itália, na Belgica, em Portugal e na Holanda. Além disso, tem-se registrado um crescimento acentuado do Batuque entre os descendentes de italianos e alemães, os primeiros de origem católica e os segundos de origem protestante, que fazem parte de destacada colônia no sul do Brasil.

4.4. CASA DAS MINAS DO MARANHÃO
As primeiras informações sobre a Casa das Minas do Maranhão nos foram dadas por Nunes Pereira (PEREIRA: ) que era filho de uma iniciada naquele ritual. Segundo Nunes Pereira, a casa das Minas era uma sociedade bastante fechada aos olhares estranhos, mantinha uma forte hierarquia e mantinha em seus postos chaves, figuras femininas. Seu panteão era composto de deuses daomedanos, chamados Voduns que se apresentavam, através da possessão, em famílias de deuses. Além do contacto com os Voduns, havia também um grupo de divindades intermediárias, entidades infantis do sexo feminino, denominadas Tobossis. Nunes Pereira pesquisou essa casa nos anos 30, quando a mesma era dirigida por Mãe Andressa.

Anos depois, novas informações são coletadas e analisadas por um outro pesquisador maranhense, Sérgio Ferretti (FERRETTI:1985) que aponta algumas diferenças entre o tempo de Mãe Andressa e o momento atual. Há poucas iniciações graças o rigor com que são tratadas as novas noviças. As Tobossi desapareceram pois perderam-se os fundamentos para preparar as Voduncis para recebê-las. A casa mantêm-se tal como nos outros tempos, cultuam-se ainda os Voduns, mas está bastante diferente do tempo de Mãe Andressa, pois perdeu parte do seu esplendor.

Os Voduns da Casa das Minas são figuras históricas do antigo reino do Daomé e foram inclusive reconhecidos pelos membros dessa antiga casa real. Durante a possessão, fumam cachimbo e falam com os participantes e visitantes e nada é feito sem sua expressa autorização.

Segundo Pierre Fatumbi Verger, essa casa teria sido fundada por uma rainha-mãe daomedana que anos depois retornaria ao Daomé, levada por seu filho, quando este recuperou o trono e encetou intensa busca entre o Brasil e o Haiti, seguindo a rota dos mercadores de escravos, encontrando-a no Maranhão.

5.1. CANDOMBLÉ DE ANGOLA
Os Candomblés de Angola também tem sua casa-mãe na Bahia, uma casa fundada no início do século, chamada de Candomblé do Bate-Folhas cujo fundador, Bernardino da Paixão, era filho da legendária Maria Nenén, feiticeira famosa e que celebrizou-se por desafiar o delegado Pedro Gordilho, implacável perseguidor dos Candomblés, nos anos 20 e 30 do nosso século. (AMADO: 1967)

O Bate-Folhas de acordo com muitas referências, é uma casa muito antiga, ao lado do Candomblé de Ciríaco do Tumba-Junçara, outra casa-mãe dos Candomblés de Angola que também deu origem a inúmeros candomblés dessa nação por todo o Brasil. (CARNEIRO: 1974 )

Outra casa de Angola muito antiga e muito famosa foi a Casa de Joãozinho da Goméia, que primeiro na Bahia, depois no Rio de Janeiro, ficou nacionalmente conhecido e até hoje, muitas das casas de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso, são do axé da Goméia. (AMADO:1967)

Edison Carneiro ainda arrola o Viva-Deus, cuja mãe de Santo, Mãe Silvana teria sido a responsável pela morte de Rui Barbosa, através de trabalhos mágicos. (CARNEIRO:1974)

Digno de registro é o fato de que nas regiões sul e sudeste, com exceção do Rio Grande do Sul, onde predomina o Batuque, o grosso dos candomblés se reconhecem como de nação angola, com forte influência do candomblé Jeje-nagô, como o nome dos orixás, algumas práticas rituais, mas mantêm-se fiéis à língua ritual e a relação com os antepassados na figura dos caboclos, que chega em muitos casos a ser o esteio da casa de Angola.

Também não há mais registro de casas que sigam um ritual de nação Congo, pois o próprio Bate-Folhas que foi o fundador desta nação, modernamente se auto-denomina como casa de Nação Angola.

As casas do complexo Congo-Angola cultuam um Inkice que não possui correspondente no panteão iorubano que é o Kindembo, ou Tempo. É uma divindade ligada ao tempo metereológico e cronológico e difere completamente das demais divindades, seja no terreno das oferendas, ou rituais públicos e privados. (ADOLFO:1996)

É a mais sincrética das formas religiosas neo-africanas. Roger Bastide assinala sua presença no Rio de Janeiro na década de 40 do século 20, mas sabemos, através de informantes e da literatura dos próprios umbandistas que a mesma surgiu no início do século XX como culto organizado, substituindo os antigos centros de feitiçaria, a famosa Cabula dos negros Bantos. João do Rio, um repórter carioca do início do século, apesar de seu evidente preconceito, nos legou preciosas informações sobre a presença banta no Rio de Janeiro, e outros historiadores e estudiosos situam formas religiosas que podem ser considerados o embrião do Umbanda, ainda no século XVII.

A Umbanda estende-se por todo o território brasileiro e vai ganhando terreno nos países limítrofes ao Brasil, principalmente na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. É uma forma religiosa com capacidade de abarcar quase todas as classes sociais, não exige, como o candomblé, uma longa iniciação, e tem-se mostrado sincrética o suficiente para atrair adeptos do catolicismo sem ferir seus (deles) princípios básicos.

Sua teogonia e teologia estrutura-se sobre o princípio do transe e da possessão, e se do espiritismo herdou o processo da comunicação com os mortos e espíritos bons e sofredores, da herança africana tomou os orixás nagôs, e deu-lhes uma vestimenta cristã, aproximando-os dos santos católicos, não apenas em seus atributos divinos, como fizeram as outras religiões afro, mas desvestiu-os do caráter de forças da natureza, revestindo-os de uma moral cristã piedosa. Para o Umbandista, o santo católico, nada mais é que uma reencarnação do orixá num determinado momento da história da humanidade ocidental.

Algumas correntes umbandistas mais esotéricas, não aceitam para a sua religião uma origem africana, por considerar a África um lugar bárbaro e atrasado e dão seu nascedouro na Índia, berço da sabedoria esotérica.

O ponto fulcral da Umbanda está assentado no tripé Caboclos, entidades encantadas da América pré-colombiana, que podem se apresentar como Caboclos de pena e Boiadeiros, Pretos-velhos, que são antigos escravos mortos no Brasil, e nas Crianças, espíritos infantis e brincalhões. Na verdade, a Umbanda, como uma religião de origem banto, tem seu paradigma no culto aos antepassados, por isso o culto aos Caboclos e Pretos-velhos, sendo que os primeiros representam o antepassado americano e os segundos, os antepassados africanos. A criança, espírito que no transe se comporta como uma criança de pouca idade, é o futuro, perpetuação da ancestralidade.

Podemos traçar um arco em cujas extremidades encontram-se, de um lado, o Umbandomblé, ou Umbanda traçada, onde se executam matanças de animais como sacrifício votivo, usam-se atabaques como instrumento para chamar os deuses e outras práticas de origem africana, e na outra extremidade, vamos encontrar uma Umbanda que nega suas origens africanas, batiza seus médiuns, à maneira católica, não sacrifica mais animais, usa preces cristãs para as suas cerimônias e mais recentemente adotou os gnomos, cores e vibrações das magias européias, nos seus rituais e práticas litúrgicas Em alguns congás, altares umbandistas, encontram-se estatuetas de Buda, significativamente apontando na direção de um novo sincretismo. A Umbanda é possuidora de um dinamismo ímpar, pois como uma religião criada no seio da população mais pobre e carente, está sempre pronta a amoldar-se às necessidades de seus fiéis.

Tal como o Batuque, a Umbanda tem templos espalhados por vários países da América do Sul, em Portugal, onde recebe o nome de Omolocô e também na França.

A quimbanda também é de origem banto, fazendo parte do complexo congo-angola. A origem do nome é da língua banto kibundo e significa curandeiro, adivinho, aquele que tem o poder de lidar com os espíritos bons e ruins. No Brasil, o termo tomou outra semântica e passou a significar aquela parte do culto da umbanda que trabalha esclusivamente com os Exus e outros espíritos considerados trevosos, já por influência kardecista, como vimos acontecer na Umbanda. Não sabemos da existência de nenhum templo de Qimbanda pura, mas todo templo de Umbanda traçada, ou da Umbanda mais africanizada, tem seus momentos de pura Quimbanda. Há um ditado na Umbanda que diz: Umbanda sem Quimbanda não existe. Nas cerimônias de Quimbanda, só entram em transe médiuns que recebem Exu, Pomba-Gira (Exu mulher) ou espíritos de Preto-Velho, ou Caboclo ligados de alguma forma aos Exus. É abundante o uso de pólvora, cigarrros e charutos, assim como o sacrifício de animais, principalmente os de cores pretas. Segundo os próprios Umbandistas, há malefícios ou feitiços que só podem ser desmanchados por uma espírito de Quimbanda, onde como Caboclos, aparecem figuras da história não oficial brasileira, como os famosos bandidos de várias épocas, prostitutas famosas, ciganos e escravos rebelados. A quimbanda dá conta de uma sociedade marginalizada e conta uma história não oficializada.

. O caboclo na Umbanda e no Candomblé de Angola
No Brasil, o termo caboclo, inicialmente, designava o elemento oriundo do cruzamento de índio com europeu. Modernamente, o termo tomou outra abrangência, e passou a designar, de um certo modo, toda e qualquer realização brasileira, passando a ser um adjetivo de brasilidade. Em algumas regiões, e a nível popular, caboclo significa o homem do campo, analfabeto, atrasado, ignorante. Os imigrantes, italianos, ou alemães, na região Sul, usam o termo caboclo no sentido pejorativo, como definidor do caráter brasileiro, de acomodação, pobreza e preguiça.

É na Umbanda e no Candomblé de rito Angola (complexo Jeje-nagô) que vamos encontrar a figura do Caboclo, com o sentido de elemento genuínamente brasileiro, uma entidade com larga penetração nas massa populares, desempenhando o papel de conselheiro espiritual, além de curador e auxiliador nos problemas do cotidiano.

Há duas espécies principais de Caboclos. O Caboclo de Pena, que se apresenta com nomes indígenas e paramenta-se como tal, e há os Caboclos boiadeiros, que se apresentam como antigos vaqueiros do sertão, tangedores de gado, valentes e bravios, vestidos de roupas de couro, botas, chapéus de abas largas.

A sociedade brasileira, dada sua formação étnica, tem o índio como um dos elementos basilares e tem, ideologicamente, convivido mal com essa herança. Como outros países colonizados, o Brasil também encontra muitas dificuldades em conviver com sua própria identidade mestiça, sendo o ideal de cultura para o brasileiro médio de todos os tempos a aproximação com os países metropolitanos, no intuito de abeberar-se inteiramente da cultura desses povos, considerados mais civilizados, mais puros etnicamente, e consequentemente mais preparados para enfrentar o futuro.

A formação da sociedade brasileira, etnicamente, se dá a partir de três grupos distintos: o português conquistador, o índio, autoctóne da terra, e o africano, introduzido na América como escravo. Durante todo o período colonial, dadas as condições históricas peculiares, houve uma larga e forte mestiçagem entre os três grupos, sendo que os portugueses sempre representaram minoria, constituída principalmente de homens. No século XVIII, com uma sociedade colonial já melhor estruturada, com colonos abastados e famílias constituídas, surge a necessidade de serem reconhecidos como tal por parte da coroa portuguesa. Os homens de bem da colônia reclamam para si títulos de nobreza, que em Portugal, só eram concedidos às famílias de sangue real. Os homens de bem no Brasil, não só não possuíam tal sangue, mas o sangue que corria em suas veias, era o sangue misturado dos negros e dos índios. O artifício ideológico de que lançaram mão foi o de transformarem seus antepassados indígenas em antigos nobres de sangue real indígena, posicionando no topo das suas árvores genealógicas, uma princesa indígena, filha de um chefe índio, de um cacique, portanto, de um rei. Dessa maneira, resolvia-se o problema da realeza, que não possuíam, e escondiam através de tal estratagema, o sangue negro, considerado mancha pela coroa portuguesa. (CÃNDIDO: 1972) Esta prática, ainda funciona no Brasil, pois os mestiços sentem-se orgulhosas por possuírem sangue índio, mas recusam-se a se considerarem descendentes de africanos, não importando, nesse caso, a cor da pele.

Entre os povos bantos a estrutura religiosa assenta-se no culto aos antepassados, sendo que entre os yorubás, o grupo que deu feição a uma das vertentes religiosas mais importantes no Brasil, há um orixá, ONILÊ, que é o senhor da terra. Sendo o índio, plasmado em herói, nos fins dos século XVIII e princípios do século XIX, e havendo essa tendência natural dos povos africanos, em relação ao antepassado e ao dono da terra, a adaptação e criação de um culto, que assimilasse as práticas indígenas, como a pajelança, desse sentido as necessidades espirituais africanas, na figura de um ancestral, no caso banto, e que refizesse o papel de ONILÊ, no caso sudanês.

O caboclo, como entidade espiritual, começa a aparecer nos terreiros de Macumba do Rio de Janeiro, no início do século XX, época em que Edson Carneiro também registra os primeiros Candomblés de Caboclo, na Bahia. No Candomblé de rito angola, o Caboclo apresenta-se como intermediário do Orixá, como porta-voz do mesmo, pois como o Orixá não fala, o caboclo fala por ele, dá conselhos, traz mensagens e ordens aos filhos-de-santo. Além dessas atribuições, essa entidade receita trabalhos de magia com a intenção de resolver as agruras do cotidiano dos fiéis. No Candomblé de rito angola, os caboclos se apresentam geralmente como boiadeiros, raramente como índios, e como tal se vestem e se paramentam, tendo também uma linguagem característica dos homens daquela lida e daquela região. Seus nomes são Sêo Chico, Sêo Zé, Pedro Boiadeiro, João retireiro, etc. Poucos são os índios encontrados nos terreiros de angola, e seus nomes estão também ligados aos nomes supostamente indígenas, geralmente os mesmos nomes usados pelos poetas e romancistas da escola romântica brasileira. Usam cocares de pena, assim como tangas, arco e flexa, e fumam charuto. A bebida preferida dos boiadeiros é a cerveja, e dos caboclos de pena é a jurema, beberagem feita com vinho branco e casca de uma árvore, a juremeira, além de outros temperos, como cravo e canela.

Na Umbanda, o caboclo tornou-se um dos vértices do triângulo, pois a Umbanda estrutura-se teologicamente nos Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças. O caboclo aí apresenta-se sob várias modalidades: Caboclos de pena, boiadeiros, baianos, marinheiros, ciganos, e outros de menor importância. Diferentemente do que acontece no Candomblé de angola, o caboclo na Umbanda é uma entidade, que, apesar de ligada a um orixá, trabalha independentemente deste, pois não é seu emissário direto como no Candomblé. Não é porta-voz do Orixá, tampouco traz recados ou recomendações do mesmo. Sua autonomia é de tal monta, que há filhos-de-santo de Umbanda, que se dizem filhos de Caboclo. Os caboclos de pena, os índios, usam às vezes um cocar colorido, às vezes nem isso, dependendo do grau de assimilação do terreiro ao catolicismo, fumam charuto, bebem vinho branco, falam um português arrevessado como se fossem índios, dão gritos como se estivessem na selva, e são especialistas em expulsar as doenças do corpo dos homens, através de baforadas de fumaça e de gestos com as mãos em torno do corpo do consulente. Seus nomes evocam tribos ou guerreiros já nomeados no romantismo, como por exemplo, Caboclo Tupinambá, Caboclo Tapuia, Cabocla Jurema, Cabocla Iracema, Cacique Pena Branca, Cacique Sete Flexas, e outros mais. Na Umbanda, há a presença de Caboclas, o que não acontece no Candomblé de rito Angola, onde não se cultuam entidades caboclas do sexo feminino.

Os demais caboclos, boiadeiros e baianos, falam o portuguuês com um forte acento regional nordestino, bebem, os primeiros cerveja, e os outros, aguardente de cana de açúcar com leite de coco, fumam cigarros de palha e são muito zombeteiros, engraçados, brigões, mulherengos e feiticeiros. São muito requisitados para desmanchar feitiços, arrumar marido para as solteironas, enviar malefícios para os outros. Os marinheiros chegam sempre mareados, cambaleando de um lado para o outro, falando muitos palavrões, sempre se referindo ao mar e ao mundo do marujo. Não existem mulheres marinheiras, nem boiadeiras, algumas baianas. Nos terreiros menos assimilados, vestem-se de boiadeiros, roupas, botas e chapéu de couro, os baianos vestem-se como os cangaceiros do nordeste (grupos de homens armados que atravessavam o sertão nordestino pilhando e saqueando as populações, desafiando o poder centralizado, sendo o mais importante deles o bando de Lampião, cujo chefe, Lampião, foi morto em 1934 e hoje, ele e sua mulher Maria Bonita, apresentam-se como entidades nos terreiros de Umbanda ), e os marinheiros usam a roupa de marinheiro e bebem muita cachaça pura. Quanto aos ciganos, se apresentam como ciganos, e o maior número de entidades é constituído de mulheres, que falam um português meio espanholado, lêem a sorte dos consulentes, vestem-se como ciganas, muitas jóias e adereços, gostam de vinhos finos, tipo champagne, e são muito procuradas para resolver casos de magia amorosa.

Pomba GiraCantos e evocação
Aquelas entidades vêm ao terreiro incorporadas em seus médiuns através do transe mediúnico e são invocadas pelo toque dos tambores e dos cânticos rituais. Os cânticos são pequenos poemas de duas ou três estrofes, geralmente com um estribilho, formas poéticas populares com estrofes formadas de 4 ou 6 versos. O teor desses pequenos poemas é sempre relacionado à liberdade, à valentia, à beleza do selvagem, no caso do índio, a amplidão das matas e campos brasileiros e a eficácia dos seus trabalhos espirituais e da força espiritual que cada um possui. Cada entidade possui seus próprios poemas de invocação, que foram dados aos homens pelas próprias entidades na primeira vez que incorporaram naquele médium, e à medida que essas cantigas vão sendo entoadas, esses espíritos vão tomando conta de seus médiuns. Alguns, no caso dos caboclos de pena, possuem colares especiais, formados de sementes e às vezes de pequenas cascas, ou, pedaços de pena, couro, patas ou unhas de pequenos animais, que são portadas pelos médiuns, durante a possessão, ou mesmo no dia-a-dia como talismã protetor. Como alimento votivo, oferece-se ao Caboclo de pena, canjica ( milho amarelo) com coco cortado aos pedaços, vinho branco ou cachaça de cana com melado de cana, pedaços de fumo de corda, sempre debaixo de uma árvore frondosa, no meio de uma mata densa. Acompanha a oferenda, velas verdes, sempre em números ímpares, e um ou mais charutos acesos, de boa qualidade, junto com a caixa de fósforo só usada para aquela ocasião.

A figura do Caboclo, considerado o verdadeiro dono da terra, o ancestral por excelência entre os Bantos, ou o Onilê yorubá, é figura plasmada do encontro de três culturas, a portuguesa, a africana e a indígena. No Brasil contemporâneo e globalizado, a presença do Caboclo ainda é muito forte com larga penetração em todas as classes sociais, seja com entidade de Umbanda ou como entidade de Candomblé Banto.

Pomba GiraCantos e evocação
Aquelas entidades vêm ao terreiro incorporadas em seus médiuns através do transe mediúnico e são invocadas pelo toque dos tambores e dos cânticos rituais. Os cânticos são pequenos poemas de duas ou três estrofes, geralmente com um estribilho, formas poéticas populares com estrofes formadas de 4 ou 6 versos. O teor desses pequenos poemas é sempre relacionado à liberdade, à valentia, à beleza do selvagem, no caso do índio, a amplidão das matas e campos brasileiros e a eficácia dos seus trabalhos espirituais e da força espiritual que cada um possui. Cada entidade possui seus próprios poemas de invocação, que foram dados aos homens pelas próprias entidades na primeira vez que incorporaram naquele médium, e à medida que essas cantigas vão sendo entoadas, esses espíritos vão tomando conta de seus médiuns. Alguns, no caso dos caboclos de pena, possuem colares especiais, formados de sementes e às vezes de pequenas cascas, ou, pedaços de pena, couro, patas ou unhas de pequenos animais, que são portadas pelos médiuns, durante a possessão, ou mesmo no dia-a-dia como talismã protetor. Como alimento votivo, oferece-se ao Caboclo de pena, canjica ( milho amarelo) com coco cortado aos pedaços, vinho branco ou cachaça de cana com melado de cana, pedaços de fumo de corda, sempre debaixo de uma árvore frondosa, no meio de uma mata densa. Acompanha a oferenda, velas verdes, sempre em números ímpares, e um ou mais charutos acesos, de boa qualidade, junto com a caixa de fósforo só usada para aquela ocasião.

A figura do Caboclo, considerado o verdadeiro dono da terra, o ancestral por excelência entre os Bantos, ou o Onilê yorubá, é figura plasmada do encontro de três culturas, a portuguesa, a africana e a indígena. No Brasil contemporâneo e globalizado, a presença do Caboclo ainda é muito forte com larga penetração em todas as classes sociais, seja com entidade de Umbanda ou como entidade de Candomblé Banto.

Termos étnicos como nagôs, angolas, jejes, fulas, representavam identidades criadas pelo tráfico de escravo, onde cada termo continha um leque de tribos escravizadas de cada região.

Nagô - adj. Nome que se dá ao iorubano ou a todo negro da Costa dos Escravos que falava ou entendia o Ioruba. Migeod (The Langs, of West Afri. II, 360) assinala que nagô é nome dado, no Daomé, pelos franceses ao iorubano: do efé anagó.

Os portugueses construíram em 1498 o forte São Jorge da Mina, ou Feitoria da Mina, ou Mina, no Gana, um posto estratégico na rota dos europeus ao litoral da África Ocidental, onde os cativos eram mantidos à espera de transporte para o Novo Mundo.

O tratado de paz de 1657 assinado pela Rainha Nzinga Mbandi Ngola e a coroa portuguesa através da mediação do Papa Alexandre, encerrou a guerra no império do Congo e o tráfico escravista europeu na região.

No que se refere ao Brasil, o tráfico irá paulatinamente se deslocar em direção a chamadas costa da Mina, onde se localizava o Império do Daomé e o reino de Ardra, vinculados ao império Oyo - Ioruba ou Nagô, segundo (Verger) no final do século XVII e início do século XVIII entre os anos de 1681 a 1710 um grande número de embarcações carregadas de fumo foram para Costa da Mina e Angola.

O fumo (tabaco) da Bahia era muito apreciado pelos africanos. Esse fumo que era rejeitado pelos europeus que o achavam de má qualidade, era destinado aos traficantes de escravos e tornaria Salvador capital mundial do tráfico de escravos.

Introduzidas no Brasil com a escravidão, as culturas negras imprimiram, cada uma com suas peculiaridades e em diferentes graus, marcas profundas em quase toda a extensão da alma e do território brasileiro. E na Bahia essa presença - que se recria hoje em importantes instituições como as comunidades terreiro - é devida basicamente à cultura dos nagôs, que vinda da África Ocidental, foi entre o fim do século XVIII e o fim do século XIX, das últimas a serem escravizadas no Brasil.

Kètu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos nagôs que vieram para a Bahia provenientes da grande área iorubá que compreende sul e centro da atual República de Benim, ex-Daomé; parte da República do Togo: e todo sudoeste da Nigéria. E todos eles - com destaque para os Kètu contribuíram decisivamente para e implantação da cultura nagô naquele Estado, reconstituindo suas instituições e procurando adaptá-las ao novo meio, com o máximo de fidelidade aos padrões básicos de origem, fidelidade essa em parte facilitada pelo intenso comércio que se desenvolveu entre a Bahia e a costa ocidental da África durante todo o século XIX até os primeiros anos que se seguirem à Abolição.

Para entender o predomínio da etnia yorubá-nagô na Bahia é necessário recordar que, nas últimas décadas do tráfico negreiro, um enorme contingente de escravos dessa região foi trazido para Salvador. Nesse momento, os núcleos familiares também não foram tão desmembrados como no início da escravatura, permitindo uma maior manutenção da cultura e dos costumes.

Nos dizeres de Edson Carneiro, no clássico “Candomblés da Bahia”: "Os nagôs logo se constituíram numa espécie de elite e não encontraram dificuldade de impor à massa escrava a sua religião". E complementa: "Quanto aos negros muçulmanos (malês), uma minoria entre as minorias, que poderiam ser êmulos(rivais) dos nagôs, pelo seu sectarismo, afastavam não só os escravos como toda a sociedade branca". A própria Mãe Aninha Obá Biyi era filha de um casal de africanos da etnia grunci, os negros Aniyó e Azambiyó, mas fora iniciada no candomblé pelos nagôs da Casa Branca-Engenho Velho. A presença de Xangô, seu orixá, solidificou ainda mais as tradições iorubás em sua trajetória.



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Em 1875, Inês Joaquina da Costa (Ifá Tuniké), mais conhecida como Tia Inês, desembarcava em Pernambuco vinda da cidade de Egbá, na Nigéria. Em sua mínima bagagem como por intuição do que estaria por vir, trouxe sementes e materiais usados no culto a Yemonjá, orixá cultuado na sua região, e mais algumas divindades cultuadas no panteão yorubá.

Com o passar do tempo, ela se estabeleceu em Recife, no bairro de Água Fria, plantou as sementes das árvores sagradas, a exemplo da gameleira e do Baobá. E assim foi nascendo o Sítio de Tia Inês e uma forma de culto conhecida como Nagô Egbá, tendo sua casa matriz o próprio Sítio de Tia Inês, que mais tarde seria conhecido, registrado e tombado como Terreiro Obá Ogunté, estendendo-se então como culto mais conhecido em Recife e sua região metropolitana e como reflexo presente na cultura pernambucana.

Após a morte da matriarca da nação Nagô Egbá, o Sítio de Tia Inês continuou aos cuidados de seus filhos adotivos e assim a regência passou a ser de pai para filho, causando assim mais uma característica da nação: o patriarcado, como sendo a maneira mais comum de herança. O mais conhecido entre os regentes foi Felipe Sabino da Costa (Ope Watanan), conhecido como Pai Adão, sua figura se mostrou tão popular dentro do culto que a casa passou a ser popularmente conhecida até hoje como Sítio do Pai Adão.

Boa parte dos barracões, atualmente, é regida por zeladores, porém vale salientar que as casas mais tradicionais e mais respeitadas foram fundadas por mulheres.

Os papéis do homem e da mulher são bem fixos no culto, os homens ganharam mais espaço e sempre por trás dos zeladores estão elas, as “senhorinhas” zeladoras os acompanhando. Observando conversas entre zeladores percebo certo machismo e muitas zeladoras repelem esses conceitos, arregaçam as mangas e constroem seus barracões, sendo eles regidos por elas e sendo elas auxiliadas pelos seus ogãs e ebamis, mostrando que o futuro poderá refletir novamente o passado.

O Nagô Egbá se assemelha muito ao Ketu. É uma nação onde suas casas tradicionais mantêm as mesmas formas de culto e conceitos ensinados pelos seus antepassados, daí vem o por quê da quantidade de orixás cultuados, que citarei mais adiante, ser relativamente menor que a de outros cultos.

Como uma nação de origem yorubá, o Nagô Egbá comporta orixás, teorias e histórias mitológicas iguais ou muito próximas da nação Ketu. Além das pequenas diferenças em sua ritualística interna, a diferença mais clara está presente nas festas, nas formas como os orixás se manifestam e dançam durante os xirês. Os instrumentos principais mudam; no lugar do som mais agudo dos atabaques, está o som mais grave e compassado dos ilús. A sequência de orixás cantada durante a roda do xirê é a mesma em todas as casas e a das toadas geralmente também (provável herança da nossa casa matriz).

Os orixás homenageados em ritual aberto ao público, o toque, são em menor número do que na nação Ketu, como já foi mencionado. São basicamente treze orixás cantados na seguinte sequência: Exu, Ogum, Odé, Obaluayê, Oxumaré, Nanã, Ewá, Obá, Oxum, Yemonjá, Xangô, Oyá e Oxalá. Ossaim tem seu culto e é sempre lembrado e homenageado durante os rituais internos e orôs; Iroko segue lembrado e cultuado nos terreiros na forma da imensa gameleira. Sobre o orixá Logum Edé, não há registro no culto Nagô Egbá, nós não negamos sua existência, apenas não há registro histórico sobre o orixá dentro do culto. Porém, há uma peculiaridade em relação a alguns outros cultos: o culto à Orunmilá é muito conhecido e difundido na nação com suas inúmeras cantigas cantadas durante as saídas dos balaios para Oxum e as panelas de Yemonjá, além de ser também lembrado na cerimônia de Bori.

Houve um tempo, mais precisamente entre 1938 e 1948, em que os terreiros de Candomblé foram perseguidos, fechados e alguns até destruídos. Esse episódio ocorreu em diversas partes do país e não aconteceu diferente em Pernambuco. Muitos zeladores fecharam suas portas, abandonaram a religião, enquanto os que persistiram na sua fé faziam tudo á maneira mais escondida e disfarçada possível.

“Era 31 de dezembro de 1948 e a comunidade de Água Fria, na Zona Norte de Recife, se aprontava para um ritual que há muito não se via, nem ouvia, a não ser em lugares secretos. Naquela noite poderiam outra vez cultuar seus deuses com o consentimento das autoridades.

É claro que começou somente com o povo do terreiro do Sítio de Pai Adão. Os filhos e filhas de santo tocavam e dançavam ainda desconfiados; o batuque era discreto. Olhavam pelas janelas para ver se a polícia não apareceria para impedi-los, mais uma vez. As baianas usavam a saia branca do candomblé por cima de vestidos. Ficaria mais fácil de tirá-las caso os perseguidores chegassem de surpresa. Os que não acreditavam no que ouviam, aos poucos, iam se aproximando do salão do terreiro, onde acontecia um toque para Oxalá.

De repente, um grito ecoa no salão. Era o orixá Ogum, manifestado em França, filha de santo antiga da casa. Os ogãs perderam a timidez; soltaram os braços e o toque se animou; os fiéis passaram a cantar mais alto, os cânticos a Oxalá. E os orixás da casa passaram a “descer”. Mãe Joana Batista recebeu sua Iemanjá, e os demais médiuns passaram a entrar em transe e receber seus orixás. Com o passar dos dias, outros terreiros do Recife voltaram a praticar seus rituais de candomblé, livres da perseguição que durou dez anos. O fim do período marcado pelas constantes prisões de babalorixás e filhos de santo, e quebra-quebra da polícia quando encontrava imagens e símbolos africanos nas casas denunciadas, completa hoje sessenta anos.”

Esse episódio significou algumas perdas ao culto, perdas principalmente nos fundamentos de orixás recentemente inseridos ao culto durante aquela época, como Obaluayê, Nanã, Oxumaré, Ewá e Obá e que aos poucos iam sendo conhecidos pelos adeptos. E apenas os orixás mais conhecidos voltaram a ser cultuados, a exemplos: yemonjá, Oxum, Exu, Ogum, Xangô, Oyá e Odé. Com a inserção do ketu e do jeje-nagô em Pernambuco, a troca de informações fez e está fazendo, aos poucos, estes orixás que tiveram seus fundamentos perdidos voltarem a ser não apenas homenageados no xirê, mas também cultuados dentro da nação.

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